O nível médio salarial da economia portuguesa recuperou de forma notória no segundo trimestre deste ano, puxado pelas profissões com salários mais elevados e pelo número recorde de empregos nas chamadas classes dirigentes e de chefia, mostram as séries do Instituto Nacional de Estatística (INE), ontem atualizadas pelos resultados do inquérito ao emprego do segundo trimestre. Dito de outra forma, nunca houve tantos chefes e tanta gente no escalão salarial cimeiro da classificação do INE.
O emprego por conta de outrem na categoria dos 3000 euros líquidos ou mais contava, no trimestre em análise, com 39,8 mil pessoas, resultado também de uma subida recorde (a maior das séries que recuam até 2008) na ordem dos 34,5%.
No contexto de recuperação generalizada do emprego, o escalão salarial dos 1800 a menos de 2500 euros também chegou ao seu maior registo, contendo agora 141,9 mil pessoas, fruto de um aumento homólogo e recorde de quase 19%.
Estes dois grupos de ordenados foram os que mais subiram no segundo trimestre.
Isso reflete-se, claro, no aumento de 4,1% do salário médio da economia (o maior das várias séries justapostas do INE, que remontam a 1998), que assim chega aos 887 euros líquidos mensais no trimestre de abril a junho deste ano.
No entanto, há profissões e escalões de remuneração que se comportaram de forma mais moderada. A larga maioria dos trabalhadores por conta de outrem em Portugal (cerca de metade, basicamente, uns 1,9 milhões) ganha entre 600 a 1200 euros.
Aqui a criação de emprego foi forte (8%), mas ficou muito abaixo do ritmo dos mais abonados. A média salarial nacional também foi ajudada pelo facto de as classes salariais inferiores a 600 euros se terem esvaziado.
Aqui o emprego caiu em média 14% num ano até ao final do segundo trimestre, indica o instituto.
Políticos, dirigentes e gestores: uma classe em ascensão Mas a bonança das remunerações não chegou da mesma forma a todos os profissionais por conta de outrem, o que explicará a razão pela qual a economia continua a emitir alguns sinais de lentidão na subida de salários.
O INE mostra que o grupo profissional dos “representantes do poder legislativo e de órgãos executivos, dirigentes, diretores e gestores executivos”, onde o salário médio líquido é de 1629 euros, aumentou mais de 25%, havendo agora 165,6 mil líderes. Nunca houve tanta gente neste grupo, mostram as séries disponíveis no INE e que começam em 1998.
O número de especialistas das atividades intelectuais e científicas está no segundo maior registo de sempre (o máximo de sempre verificou-se no início deste ano).
Nesta categoria há agora cerca de 810,3 mil pessoas, sendo o salário médio à volta de 1324 euros mensais.
No entanto, o INE também mostra que, neste segundo trimestre de exceção para alguns, há 860 mil profissionais (técnicos de nível intermédio e pessoal administrativo) cujos salários subiram quase em linha com a inflação e muito abaixo do ritmo médio do país. O INE diz 1,3% e 1,5%, respetivamente.
A atualização média para os mais de 750 mil trabalhadores dos serviços pessoais, de proteção, segurança e vendedores, onde se ganha uma média de 680 euros por mês, foi melhor (3,2%), mas também ficou abaixo da média nacional.
Mercado de trabalho recupera De resto, os dados oficiais ontem revelados mostram que a recuperação da economia continua a reverter-se em mais emprego e menos desemprego.
A taxa de desemprego do segundo trimestre de 2018 desceu para 6,7% da população ativa, o que corresponde ao valor mais baixo dos últimos 14 anos (desde 2004).
O desemprego jovem caiu para 19,4%, aquele que é o valor mais baixo desde meados de 2009. Em um ano (face ao segundo trimestre de 2017) Portugal perdeu 109,6 mil desempregados, uma descida homóloga de 23,7%. Assim, atualmente haverá apenas cerca de 351,8 mil pessoas sem trabalho.
O Centro e o Algarve destacam-se e são agora as regiões com menos desemprego, cerca de 5,3% das respetivas populações ativas. Estão abaixo da média do País.
O Norte e a Grande Lisboa também têm menos desemprego, mas os níveis continuam acima da média nacional. Ambas as regiões têm agora 7,2% dos seus ativos sem trabalho.
A maior descida face ao segundo trimestre acontece nos Açores cuja taxa caiu 2,7 pontos percentuais, para 8,3%. Em todo o caso, continua a ser a maior do País. Logo a seguir vem a Madeira, com um desemprego de 8,2% (que em todo o caso aliviou 1,8 pontos). A população empregada total aumentou 2,4% (mais 113,7 mil) face ao segundo trimestre de 2017, chegando assim aos 4,874 milhões de casos.
O INE diz que o emprego prolonga “a série de variações homólogas positivas iniciadas no 4.º trimestre de 2013”. As maiores subidas no emprego acontecem nas atividades imobiliárias (mais 19%) e nos serviços de saúde (16%).
Fonte: Dinheiro.PT